quinta-feira, 3 de maio de 2007

Sentir...não sentir...

Pego nas tuas palavras, Meghy, que faço minhas, em parte. Sigo no profundo do meu coração. E pergunto-me: seremos nós a dupla ideal? Ou elevamos, no sarcasmo e na desventura, a triste ironia de encontrar felicidade neste penoso, mas profundo, descrever de sentimentos?

Evitando já confusões futuras, sempre muito interessantes, clarifico: não a ti, co-ambloguista, mas a ti, alguém, terceira parte, sujeito não identificado, pessoa, te dedico as minhas palavras.



O que podemos retirar, afinal do amor?
Na sua essência, qual é a fonte de tanta adição?
Vemos no simples plano da realidade, fenómenos dispersos que nos fazem voar. Voar e não mais voltar ao que de facto sustenta o sentimento.
Podemos desejar, com o mais puro querer e com a mais inocente paixão, apenas o nada que nos preenche. Ainda assim, é o nada que nos preenche. E ficamos cheios. Cheios, mas sem olhos que o vejam, sem réguas que o meçam, sem testemunhas que partilhem essa visão. Não. Amar verdadeiramente, penso, é usufruir sozinho de um sentimento que pensamos ser partilhado ou partilhável. Porque cada um sente como sente, ninguém nos garante que haja, efectivamente, uma «harmonia de sentires» que mantenha o equilíbrio entre corações.
Não. Eu amo como só eu posso e sei amar. Amo sem ter receitas, sem ter dicionários, sem ter justificações. Amo porque olho para "ti", para alguém, e me sinto completo, repleto de emoções. Por vezes, amo sem saber quem és. Porque te amo, sem te conhecer. Amo-te pelos pormenores doces que, em leves migalhas, deixas pelo meu caminho, ao passares.
Amo-te, porque penso que gosto de ti, de quem vejo e de quem penso seres tu. Não conheço de que és feita. Mas sei que gosto indissociavelmente do que me mostras e do que me dás. E o mais vicioso circulo da paixão, que calmamente aconchega, no regaço, a semente do amor. É esta terna redundância, de te admirar pelo prazer que o que sinto por ti me faz sentir. Dedico-me a ti, sempre na esperança que, pelo meu amor, possas ser feliz simplesmente neste vazio que te preenche, onde no silêncio das nossas palavras sussurradas, me encontro. Vazio, porque ninguém, senão tu, senão eu...ninguém mais vê o que se sente.
Quem ama uma vez, não esquece. Quem ama algumas vezes, não repete jamais o que sentiu. Quem ama demasiadas vezes...não ama.
No fundo, interrogo-me se alguma vez alguém o conseguirá explicar...Sinto, cuido o sentimento, deixo-o crescer, amo. Mas não o faço de verdade. Ficciono o que pretendo sentir, pela segurança que os meus falaciosos silogismos me dão. Faço-o, sempre na negação de uma realidade que me custa a (e por fraqueza não quero) aceitar.
Com isto, não digo que deixarei algum dia de amar, de querer amar. Digo apenas que não o farei perfeitamente, porque não há perfeição no erro. Ainda assim, se tenho de algum vício, como "o melhor", eleger, que seja amar. Beber não posso, pra bem do fígado; nicotina não entra para eu não feder. Amo, até ao suicídio, de me sumir, por meu coração, hipertenso, no seu sentimentalismo vão, parar de bater.

3 comentários:

Anónimo disse...

genial...
O amor.
Esse servo sôfrego,
Criatura indolente…
Oculto em sombra
Tal pesar…
Tal descalabro…
Dormente, impaciente.
Esse torpor que acalma,
Incendia
Queima.
Esse pássaro cego
Que acalenta a dor…
A demência de uma novidade clandestina…
Essa paz que antevê uma guerra
E uma guerra que urge de viver…

Francisco Cabral Matos disse...

Um(a) poeta anónimo(a)...o(a) verdadeiro(a)...

Obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...

:)