"- Estás a cometer um erro - retruca ela. - As pessoas que incorrem em condução perigosa merecem uma lição. Suponho que te vão colocar uma prótese. Hoje em dia fazem-se próteses maravilhosas; não tarda nada, estás outra vez a andar de bicicleta.
- Não me parece - torna ele. - Essa parte da minha vida está terminada."
E depois ainda...
"O que o surpreende em toda a história do hospital é a rapidez com que a preocupação passa de remendarem-lhe a perna («Excelente!», diz o Dr. Hansen, apalpando-lhe o coto com um dedo elegantemente tratado. «Está a consolidar às mil maravilhas. Não tarda nada, volta a ser o mesmo de sempre.») à questão de como ele (a expressão é deles) se aguentará quando for de novo largado no mundo."
Indecentemente cedo, ou assim lhe parece, entra em cena uma assistente social, Mrs. Putts ou Putz.
- O senhor ainda é novo, Mr. Rayment, Paul - informa-o da maneira jovial que lhe devem ter ensinado a empregar com os velhos. - Há-de querer conservar a sua independência, e claro que isso é bom, mas durante uns bons tempos vai precisar de cuidados de enfermagem, cuidados especializados, que podemos ajudar a contratar. A longo prazo, mesmo quando tiver mobilidade, vai precisar de alguém que esteja ao seu dispor, para lhe dar uma ajuda, para fazer as compras, cozinhar, fazer a limpeza e tudo isso. Não tem ninguém?"
"O Homem Lento", J.M.Coetzee
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