sábado, 17 de março de 2007

O nosso mundo...

O Mundo é, cada vez mais, uma incubadora de excentricidades sendo que, mais tarde ou mais cedo, chegamos a dias como o de hoje, em que nada à nossa volta parece fazer sentido...

Rodeados de sorrisos, não nos apercebemos de como tudo é escuro e trapaceiro; de como tudo é dúbio e subvertido...

E o desgosto chega, e a mágoa toca a nossa alma, e a vida que nos reconhecemos viver não é mais que uma torre de Babel... Ouço-te, pelo dom que tens de me fazer sentir falar por tuas palavras...Ouço-te, porque falaste sempre sem te preocupar com quem te está a ouvir. O teu texto é verdadeiro, é puro, é sentido...não foi escrito para se vender...

Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exactamente na cabeça.

Meu coração estoirou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...

Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui me atou aos pés,
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!

Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários -
Também não é novidade.

Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar numa pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como não sou não tenho nem fim nem vida...

Álvaro de Campos, 1929


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