Pois é, a cada dia que passa, mais íntima é a minha relação com os caminhos de ferro portugueses. Na verdade, ando todos os dias (pelo menos os úteis) de comboio, o que vejo como algo tão positivo quanto negativo...
Felizmente, sei o que é andar de comboio desde cedo. Relembro, com saudade, os passeios que fazia com os meus avós, sendo que, quando era a minha avó sozinha a ir buscar-me a Oeiras, a viagem até Lisboa era invariavelmente feita de comboio.
O comboio é um óptimo sítio para conhecer a gente que nos rodeia, o povo em que nós próprios nos integramos. De facto, é um exercício muito curioso que quem apenas se desloca em veículo privado não pode efectuar. Gosto de apreciar, desde a senhora de alguma idade que mete conversa com a pessoa ao seu lado, sobre a "juventude de agora"; o skater que entra na estação e percorre todo o centro da carruagem - de uma ponta à outra - deslocando-se no seu skate; o moldavo que toca o acordião...admiro tanto as personagens típicas quanto os anónimos e "normais" transeuntes.
No entanto, é de conhecimento geral, a característica ineficiência das linhas da grande Lisboa. E tem sido uma experiência dolorosa (maioritariamente, mas não em exclusivo, no plano psicológico), que não me deixa aproveitar como gostaria a magnífica viagem que é, efectivamente, a que liga o Cais do Sodré a Cascais, sempre junto à margem norte do Tejo. Já acompanhei o nascer do dia, o por-do-sol, o regresso da praia de muito, o passeio turístico de uns outros tantos...
Tive igualmente oportunidade de conhecer as "linhas de cascais" de outros países europeus. Paris, Londres, Bruxelas, Milão...meros exemplos...e nada se compara com a nossa confusão. E sinto-me triste com isso. Ganhei o conforto e o bem-estar, onde a paisagem muitas vezes se resume a bairros habitacionais. Perdi a beleza de um rio que me acompanha, quando, de regresso a casa, passei 20 minutos a tentar fugir ao cheiro a catinga...
Fica aqui a crítica, o desgosto, mas o reconhecimento profundo de bons momentos que se têm concretizado ao longo de períodos distintos da minha vida. Fica a saudosa invocação do direito a pagar apenas 1/4 (e mais tarde 1/2) bilhete...mas mantém-se o cheiro a castanhas assadas, ao chegar, pelo Outono, ao meu destino.
Esta tem sido também, em parte, a minha "casa"...aqui tenho o tempo que posso tomar por garantido (+-20minutos em cada viagem), tempo em que por vezes escrevo no meu moleskine, tempo em que sonho como se ainda fosse menino...tempo em que aprecio as velas dos veleiros que passeiam no rio...tempo...tempo...tempo...
...tempo que não tenho noutro sítio.
(v. também À beira-rio...num comboio)
Felizmente, sei o que é andar de comboio desde cedo. Relembro, com saudade, os passeios que fazia com os meus avós, sendo que, quando era a minha avó sozinha a ir buscar-me a Oeiras, a viagem até Lisboa era invariavelmente feita de comboio.
O comboio é um óptimo sítio para conhecer a gente que nos rodeia, o povo em que nós próprios nos integramos. De facto, é um exercício muito curioso que quem apenas se desloca em veículo privado não pode efectuar. Gosto de apreciar, desde a senhora de alguma idade que mete conversa com a pessoa ao seu lado, sobre a "juventude de agora"; o skater que entra na estação e percorre todo o centro da carruagem - de uma ponta à outra - deslocando-se no seu skate; o moldavo que toca o acordião...admiro tanto as personagens típicas quanto os anónimos e "normais" transeuntes.
No entanto, é de conhecimento geral, a característica ineficiência das linhas da grande Lisboa. E tem sido uma experiência dolorosa (maioritariamente, mas não em exclusivo, no plano psicológico), que não me deixa aproveitar como gostaria a magnífica viagem que é, efectivamente, a que liga o Cais do Sodré a Cascais, sempre junto à margem norte do Tejo. Já acompanhei o nascer do dia, o por-do-sol, o regresso da praia de muito, o passeio turístico de uns outros tantos...
Tive igualmente oportunidade de conhecer as "linhas de cascais" de outros países europeus. Paris, Londres, Bruxelas, Milão...meros exemplos...e nada se compara com a nossa confusão. E sinto-me triste com isso. Ganhei o conforto e o bem-estar, onde a paisagem muitas vezes se resume a bairros habitacionais. Perdi a beleza de um rio que me acompanha, quando, de regresso a casa, passei 20 minutos a tentar fugir ao cheiro a catinga...
Fica aqui a crítica, o desgosto, mas o reconhecimento profundo de bons momentos que se têm concretizado ao longo de períodos distintos da minha vida. Fica a saudosa invocação do direito a pagar apenas 1/4 (e mais tarde 1/2) bilhete...mas mantém-se o cheiro a castanhas assadas, ao chegar, pelo Outono, ao meu destino.
Esta tem sido também, em parte, a minha "casa"...aqui tenho o tempo que posso tomar por garantido (+-20minutos em cada viagem), tempo em que por vezes escrevo no meu moleskine, tempo em que sonho como se ainda fosse menino...tempo em que aprecio as velas dos veleiros que passeiam no rio...tempo...tempo...tempo...
...tempo que não tenho noutro sítio.
(v. também À beira-rio...num comboio)
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