quinta-feira, 24 de julho de 2008

Memórias da Turquia - I [17.Julho.2008]

13h44
Final destination: Ankara. Um aeroporto que não sei sequer dizer o nome... É estranha a sensação de ir à Turquia... Ando aqui no aeroporto... De um lado para o outro... Olho para as crianças a correr à minha volta... Os pais atarefados a correr atrás delas... As filas do embarque... Pessoas a entrarem e a saírem... A chegarem e a partirem... Olho-as. Tento não imaginar o que estão a fazer... Quem são... Ao que vão... Aqui sinto a vida a fluir... Como areia a escorrer por entre os dedos...
Tenho saudades tuas amor. Muitas... Sinto-me nervosa... aterrorizada... nem a primeira paragem em Munique me deixa mais descansada, com uma maior sensação de... segurança ocidental...
O avião está atrasado... devia partir daqui a 10 minutos... A fila para a porta de embarque está formada... uma fila gigante de pessoas expectantes, impacientes...
Ânimo, Meg...
*
15h05
Leio "Café, Canela & Coração" de Joana Branco. "Tento dizer-lhe telepaticamente o que ela gostaria de ouvir da boca dele:"Pois já devias estar exausta de tanto passear; passaste o dia inteirinho a vaguear na minha cabeça", mas os lábeios dele nem se entreabriram. Custa-me perceber que há humanos que permitem desencontros sobre-humanos porque lhes custa movimentar os lábios à medida que o raciocínio se lhes escorre. Toda a gente tem um amor que já não o é, que não se tem ou que nunca o foi. É este o idílio e a tortura, não pensar no que poderia ser e querer apenas o que deveria ter sido". E esta frase trouxe-me até ti, meu loiro, meu bebé... quero pensar que nestes últimos anos, juntos, nunca deixámos de sentir, mesmo quando pensámos que não significava nada... Quero acreditar que a distância aconteceu porque tínhamos de crescer e perceber que um sem o outro talvez não faça sentido. E que fizémos um esforço sobre humano para aguentar essa caminhada... Esse crescimento... Essa distância. Talvez uma viagem à Turquia não seja mais que uma viagem espiritual por dentro de mim própria em que, lá, sozinhas, vou poder encontrar o nosso cantinho... O teu lugar no meu mundo...
*
15h33
Procurar na FNAC: Borchert. "Leio Borchert para que não me chamem estúpida, mas ele estoura-me a massa encefálica. Leio, leio. Até suar." Isto se não me estourarem antes... Com uma bomba... Em Ankara. Medo!
*
15h35
Mas o tempo não passa?! Genial: "Somos uns girinos dentro de um aquário rectangular, enfiados na parede da sala de um Deus qualquer..." O Deus tem sala. Provavelmente, se tem casa, também tem quarto. É bom saber que Deus também dorme! (Principalmente quando se vai a caminho da Turquia...)
*
15h46
"A paixão é uma febre gripal que se cura com o antibiótico da realidade. Num dia desfalece-se, as horas custam a passar, a noite é dura, mas a recuperação é rápida. O ser humano tem destas coisas". Ouviu, D. AZ? Espero que já tenhas acordado do desfalecimento em que permaneceste estes meses todos... e que estejas agora já na fase em que as dores custam a passar. Prometo-te que, do teu lado, a recuperação vai ser rápida, e que vais voltar a ser a AZ que eu conheci um dia... no Aeroporto a caminho de um outro desconhecido, de outra aventura...
*
16h07
Acabei de ler o primeiro livro... Não, não sou paranóica por livros... Juro! Eu só gosto... sinto-me bem no meio deles... Apetecem-me! Vou continuar... Ainda tenho mais cinco... valter hugo mãe e Ian McEwan estão na mala... longe... Pamuk... ainda não chegou a hora dele... entre Henry Miller e um policial... "O caso do Colar Desaparecido", de S.S. Van Dine.
Olho pela janela do avião e parece-me navegar por cima de um mar de algodão doce... Alguma turbulência agora... Sinto saudades... dos dias em que ainda não fomos felizes. Sinto saudades da Turquia... Sinto saudades do dia em que de lá regressar...
*
19h23 [1h+]
Ok, ok... Tenho que confessar que a perspectiva não melhorou... hmmm... eu apreensiva... isso... muito apreensiva!! Mas vejamos... adormeci... acordei já quase a entrar em Munique... E que vi eu? Quando olhei pela janela do avião, vi uma manta de retalhos coloridos a fazer de terra... Por cima da manta, um monte de casinhas com telhados engraçados... lagos, muitos lagos assim pequeninos... e igrejas com torres muito altas... Será isto a doce Baviera?! Sítio a voltar...
Ainda estava eu a saborear a onda melancólica da paisagem que se me apareceu quando uma ultra travagem me desperta. Péssima aterragem, quem sabe uma espécie de presságio do que viria depois... O aeroporto de Munique é grande, bonito. Lojas enormes, com classe... De repente vejo um placard a dizer: Portas H [a minha]. Sigo a placa. Uma escada rolante, um corredor branco. Tudo feio, assustador, sem cor. Chego a um átriom uma fila de espera gigante para o controlo dos passaportes. Na fila, um silêncio aterrador. As pessoas olham desconfiadas umas para as outras... Um bando de chineses tenta passar à frente... Eu em cima da hora para o embarque e com vontade de ir à casa de banho... Oh God... make me good, but not yet!! Quero desatar aos berros... bater em toda a gente. Parem de olhar para mim.. pode ser?! Oiço falar português e vejo m guia da Índia. O silêncio... Os olhares desconfiados... Pessoas diferentes... Onde anda a minha Latinolândia?! Parece outra dimensão. No andar de baixo pessoas vestidas à Inverno. Rigoroso. Pessoas sofisticadas em lojas maravilhosas. Aqui... é o que se vê!
Finalmente passo o controlo... dirijo-me rapidamente para a porta de embarque... sem lojas, sem casa de banho, sem corrida... mesmo a tempo de ouvir a palavra mágica... overbooked... oh!, maravilhoso! Es tut mir leid aber... ok!, eu não fico aqui amigos... Tenho gente à minha espera.... vou ter que enfrentar isto... quero chegar rápido!
O avião está cheio. Pessoas que me olham, que se olham com ar desconfiado... Miúdos que gritam por todo o lado... vou voltar ao meu livro...
*
23h04 [2h+]
Quase a aterrar... Acabei o policial... Agora sim, sem qualquer dúvida... "A vida nova" de Orhan Pamuk. É de noite. Vêem-se bastantes luzes lá fora. Sobrevoo a estepe da Anatólia... Estou no centro da Turquia, piso a Ásia pela primeira vez... Ankara vista do céu, é uma cidade enorme... moderna. Luzes brancas e amarelas, num caos que parece bastante organizado.
Apagaram-se as luzes...
*
23h57
Ankara.
Aterrei. Não consigo lembrar-me dos primeiros momentos. Tenho uma ligeira sensação de ter visto um lago no meio do aeroporto. Bonito. Depois fui comprar o visto - 10€. Passei o controlo... que continuo a odiar! Olham para mim como se fosse uma criminosa!!... e procurei a saída... cheguei cá fora... muitos operadores turísticos à porta (e porque é que não entram amigos?!)... vi o autocarro. Havas Company. Os homens que estavam sentados levantam-se com um pulo... incompreensível... Entro num autocarro modelo, mas vazio, sem poder deixar de pensar... onde vim eu enfiar-me?! 6eur o bilhete de autocarro. Paguei em euros, deram-me dinheiro turco. Liras turcas, que não faço a mínima ideia de quanto aquilo vale... Saímos do aeroporto - tem cancelas... e vamos por uma estrada com luzes laranja para um lado, verdes para o outro. Por agora as pessoas que vejo são normais, vestidas à ocidental... qualquer uma delas podia ser portuguesa!
Next destination: Stadium Station... espero que o motorista não se esqueça de me avisar, espero que esteja alguém à minha espera... MEDO!

Sem comentários: