Pergunto-me o que foi tudo aquilo? O que me fica na memória e o que me tocará, no futuro, a forma como olho a arte...? Não sei. Tal como em tudo o resto - como algum uma vez me disse - eu preciso de conhecer toda a realidade que me rodeia, não consigo deixar de procurar descobrir os porquês do que por aí existe. É verdade. E a arte - ou melhor, a minha paixão por ela - é um reflexo disso: gosto de vários estilos, de vários pintores, de várias técnicas...sei o que não gosto, mas é-me muito difícil definir o que gosto. Porque é vasto.
Por isso, talvez seja esse o motivo de ter considerado tão interessante e tão "útil" - no sentido de me alimentar a alma - a tarde que passei no CCB, passeando pelos corredores do agora "Museu Colecção Berardo". A primeira surpresa encontra-se logo aos primeiros metros do percurso recomendado: uma tela em que o Sr. Comendador Joe se converte por breves momentos em "José Berardo" (assim reza o título da obra), num retrato de múltiplas perspectivas, que o torna simultaneamente no primeiro, mas também no mais insignificante momento da exposição. A posição é estratégica. Ali está ele, à entrada, mas simultaneamente à saída, numa passagem obrigatória... Mas agora penso...não são todas obrigatórias? Adorando ou rejeitando cada expressão de arte que ali podemos apreciar, a verdade é que é um atentado à cultura e ao respeito por nós mesmos recusarmos liminarmente a observação de qualquer uma das obras ali detidas...
Falava com a Raquel, partilhando interrogações mútuas ou por vezes adivinhando sentidos distintos na interpretação do que ambos estávamos a ver... No mesmo ponto tivemos certamente a inspiração para seguir caminhos distintos...quem sabe se opostos até.
É na variedade e na falta de sentido, na brisa indefinida que nos faz pensar como tudo ali, ainda que ordenado, se apresenta tão aleatório...mas tão formoso, parece-me.
Precisarão de grande capacidade de abstracção, precisarão de se deixar invadir pelo que de mais instintivo e apriorístico o vosso ser tem para vos dar. Sintam, sem pensar...e depois sim, se quiserem (como eu quis), pensem...misturem-se com a obra e raciocinem, não centrados no que vêem, mas no que sentem. Mas esta é já uma perspectiva muito intimista da exposição. Para mim foi esse o prazer que dali resultou. Foram os raciocínios complexos, camuflados e nitidamente não revelados...
Recorro por isso não a obras lá expostas, mas à criatividade de dois pintores cujo trabalho integra a colecção, para vos entusiasmar...
Por isso, com a ajuda de Max Ernst, "convido-vos" a encararem esta exposição como uma floresta em que tudo vos é desconhecido. Há muita cultura por "desbravar", por descobrir e o espírito de cada visitante terá de ser o mesmo de cada aventureiro que se predisponha a seguir este caminho para algo denso e cada vez menos nítido...competirá a nós receber a cultura, tão clara quando ela sempre se dá a conhecer, mas no seu espaço, no seu momento. A exposição - possivelmente como esta floresta - reserva a cada passo uma nova surpresa.
Mas para que a exposição vos não desiluda - como poderia eventualmente desiludir esta obra de Grace Tailthorpe - , entrem já abstraídos, já expectantes de algo novo, já disponíveis para qualquer coisa que não irão perceber à partida - nem mesmo, eventualmente, no final...
Só assim algo ali terá sentido.
Vão e aproveitem.
E mesmo que à saída sintam que não houve ali nada que vos tenha agradado, ainda assim sobressai toda a utilidade da cultura que em curtos labirintos se expõe. Somos seres críticos, somos sensíveis, somos gente. Duvido que os autores ali representados tenham alguma vez pretendido agradar. Se a alguém aquela obra agradou foi a si mesmos, que se expõem no que tornam público.
E quem não gostar, critique ou inove...mas não se acomode. Afinal não é isto, a arte? Não é isto a inovação? Não é isto o que nós somos?
Acredito que Hegel tem razão...acredito que tudo é tese, antítese e superação.
Um último reparo...Juntem-se e passeiem acompanhados...
Mesmo que tudo o resto que, em parágrafos anteriores relato, seja uma emoção artística que não consigam partilhar comigo...houve nesta tarde algo que pode, com todos funcionar...tive uma óptima companhia (a ti um obrigado enorme Raquel!)!
Assim, após terminarem a vossa visita, partilharemos a consideração de que, mais não seja, pela companhia, foi certamente uma tarde bem passada!
Falava com a Raquel, partilhando interrogações mútuas ou por vezes adivinhando sentidos distintos na interpretação do que ambos estávamos a ver... No mesmo ponto tivemos certamente a inspiração para seguir caminhos distintos...quem sabe se opostos até.
É na variedade e na falta de sentido, na brisa indefinida que nos faz pensar como tudo ali, ainda que ordenado, se apresenta tão aleatório...mas tão formoso, parece-me.
Precisarão de grande capacidade de abstracção, precisarão de se deixar invadir pelo que de mais instintivo e apriorístico o vosso ser tem para vos dar. Sintam, sem pensar...e depois sim, se quiserem (como eu quis), pensem...misturem-se com a obra e raciocinem, não centrados no que vêem, mas no que sentem. Mas esta é já uma perspectiva muito intimista da exposição. Para mim foi esse o prazer que dali resultou. Foram os raciocínios complexos, camuflados e nitidamente não revelados...
Recorro por isso não a obras lá expostas, mas à criatividade de dois pintores cujo trabalho integra a colecção, para vos entusiasmar...
Por isso, com a ajuda de Max Ernst, "convido-vos" a encararem esta exposição como uma floresta em que tudo vos é desconhecido. Há muita cultura por "desbravar", por descobrir e o espírito de cada visitante terá de ser o mesmo de cada aventureiro que se predisponha a seguir este caminho para algo denso e cada vez menos nítido...competirá a nós receber a cultura, tão clara quando ela sempre se dá a conhecer, mas no seu espaço, no seu momento. A exposição - possivelmente como esta floresta - reserva a cada passo uma nova surpresa.
Mas para que a exposição vos não desiluda - como poderia eventualmente desiludir esta obra de Grace Tailthorpe - , entrem já abstraídos, já expectantes de algo novo, já disponíveis para qualquer coisa que não irão perceber à partida - nem mesmo, eventualmente, no final...
Só assim algo ali terá sentido.
Vão e aproveitem.
E mesmo que à saída sintam que não houve ali nada que vos tenha agradado, ainda assim sobressai toda a utilidade da cultura que em curtos labirintos se expõe. Somos seres críticos, somos sensíveis, somos gente. Duvido que os autores ali representados tenham alguma vez pretendido agradar. Se a alguém aquela obra agradou foi a si mesmos, que se expõem no que tornam público.
E quem não gostar, critique ou inove...mas não se acomode. Afinal não é isto, a arte? Não é isto a inovação? Não é isto o que nós somos?
Acredito que Hegel tem razão...acredito que tudo é tese, antítese e superação.
Um último reparo...Juntem-se e passeiem acompanhados...
Mesmo que tudo o resto que, em parágrafos anteriores relato, seja uma emoção artística que não consigam partilhar comigo...houve nesta tarde algo que pode, com todos funcionar...tive uma óptima companhia (a ti um obrigado enorme Raquel!)!
Assim, após terminarem a vossa visita, partilharemos a consideração de que, mais não seja, pela companhia, foi certamente uma tarde bem passada!
Sem comentários:
Enviar um comentário