sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Scarlett I

Scarlett sentia que podia dar mais... de repente o mundo transformara-se num lugar onde não se sentia bem. Tinha tudo para ser feliz, e de facto era tudo o que ambicionava. Gostava de alguem que decididamente gostava dela à sua maneira. Ela sabia disso... no entanto... no entanto era tudo demasiado doloroso. Sentiu mais uma vez aquele arrepio de medo, que lhe deu vontade de rir. De medo. Apesar dos pesadelos, noite atrás noite, tentava seguir o seu caminho. Procurava durante o dia as forças para sobreviver durante a noite. Encontrava essas forças nas pequenas coisas da vida.
Fugia para um lado e para o outro, tentando evitar os meios de comunicação com o seu interior. Neste momento da sua vida, a Scarlett só lhe interessava esquecer que amava. E não conseguia.
Sofria de maus tratos. Dos psicológicos. Precisava de atenção, de carinho, sentia-se insegura. Ninguém parecia reparar ou dar valor. Scarlett voltava uma e outra vez a "agarrar-se" àquilo que dava, aos sorrisos que recebia em troca. Trabalhar naquele sítio era uma benção, daquelas que parecem só acontecer aos outros.
Tinha sorte e sabia-o. Tinha tudo. Menos aquilo que naquele momento menos falta lhe fazia. Mas que ela queria, que ela intimamente necessitava para sobreviver. E tanto era tão pouco. Ele gritava-lhe, ela limitava-se a ouvi-lo. Sentia-se injustiçada, mesmo quando a situaçao era má, mesmo quando tudo o que lhe apetecia era mandá-lo à merda, nunca tinha feito tal coisa, nunca lhe tinha dirigido uma palavra mais agressiva. Apetecia-lhe dizer-lhe que não ousasse fazer isso outra vez, mas o medo de o magoar era demasiado grande. Ela gostava dele. Julgava merecer melhor... e merecia!
Scarlett, à meia noite, parou o carro junto ao Cabo Espichel. Noite de lua cheia. Passou as arcadas, do lado esquerdo da Igreja, e achou que aquele era o sítio. Motor a trabalhar, primeira engatada... no rádio "La Pared" de Shakira.
Scarlett tinha nas suas mãos a decisão da vida...
Ela decidiu!

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